GERALDINA PEREIRA FERNANDES (*23.Junho.1913; +23.Julho.2002)
Textos


 As 6 horas da manhã do dia primeiro de novembro de 1918 a cidade mineira de Sacramento silenciava, respeitosa: caíra do céu uma pedra sobre o Colégio Allan Kardec.

Eurípedes Barsanulpho predissera em 22 de outubro do mesmo ano: toda a cidade de Sacramento estaria em lágrimas no dia primeiro de novembro pois uma pessoa benquista morreria e muitas coroas e flores seriam levadas por uma multidão de gente. Tal predição foi feita ao seu pai, seu Mogico, a dona Meca, sua mãe, ao seu cunhado José Rezende da Cunha e a todos os alunos do Colégio.

E, aos 23 dias do mês de outubro, o professor Eurípedes contraíra o vírus da gripe espanhola: mesmo enfermo, socorria a caravana de outros enfermos acometidos pela mesma gripe.

Um primeiro desfalecimento aconteceu na noite de 31 de outubro de 1918: o mestre Eurípedes caía ao chão e, antes de entrar em coma, ainda solicitou aos amigos presentes que lhe preparassem um banho.

Após o banho, preparava-se para deixar o corpo: os alunos do Colégio estavam presentes.

Parecendo sair de um longo sono, por volta da meia noite, abriu os olhos e afirmou: "Graças, Senhor, estou salvo!" Todos os presentes pensavam que o professor e Anjo da Caridade estava curado.

Dona Meca desdobrava-se em cuidados e ouviu dois pedidos do filho: quando eu morrer, se necessário, feche a farmácia mas, jamais feche o Colégio; que meu corpo seja vestido com roupa velha, seja enterrado numa rasa sepultura e em caixão comum.

As lágrimas da mãe diante dos pedidos do Anjo da Caridade eram de dor; jamais, porém, seriam de contestação.

Dona Meca beijou o rosto do filho, foi até a sala onde recebeu o amparo do esposo... E, por mais algum retornou ao quarto: colocou a mão na cabeça do querido filho e, então, Eurípedes morreu.

Eram seis horas da manhã.

Em pouco tempo, a notícia espalhava-se e todos os habitantes da cidade de Sacramento encaminharam-se para a frente da casa do seu Mogico.

Edalides Milan, irmã de Eurípedes, vestiu-lhe o corpo e colocou-o no caixão, ajudada pelo ex-aluno Lourival.

À tarde, uma chuva fina e contínua caía sobre a cidade: o corpo do apóstolo saía da casa do seu Mogico rumo ao cemitério.

O povo chorava e o céu de Sacramento acompanhava-lhe derramando lágrimas em forma de chuva branda.

Por um quilômetro e meio, a população de Sacramento e de várias cidades vizinhas acompanhava o enterro do seu mais iluminado filho: o enterramento deu-se às 17 horas.

Noventa e dois anos se passaram sobre este fato histórico.

No dia de todos os santos deixava o corpo na terra de Sacramento o Sol da Caridade cujo nome de batismo foi Eurípedes Barsanulpho.

Carlos Fernandes
Enviado por Carlos Fernandes em 02/11/2010
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