GERALDINA PEREIRA FERNANDES (*23.Junho.1913; +23.Julho.2002)
Textos

Conquanto, pela história escravista do Brasil a partir de 1531, seja quase irrelevante os sobrenomes (às vezes emprestados, tomados arbitrariamente ou inventados), chama a atenção, por exemplo, o sobrenome Pena (também grafado Penna) na família Xavier:

-Nelson Pena (ou Penna) foi o esposo de Carmozina Xavier;

-Jacy Pena (ou Penna) era o esposo de Maria da Conceição Xavier;

-Geni Pena (ou Penna) era a esposa de José Cândido Xavier;

-Maria Pena (ou Penna) era a esposa de Raimundo Cândido Xavier.

-Nancy Pena (ou Penna) é o nome de uma mulher identificada pelo jornalista Clementino de Alencar, em 1935, participando de uma reunião no Grupo Espírita Luís Gonzaga. (ARANTES, 2003, p.46)
Trata-se de um parente de Nelson Penna (esposo de Carmozina Xavier Pena)? de parente de Jacy Penna (esposo de Maria da Conceição Xavier Pena)? de parente de Geni Penna (esposa de José Cândido Xavier)? de parente de Maria Pena (esposa de Raimundo Cândido Xavier? Ou, talvez, trata-se de outra pessoa, de outro tronco familiar?


-e, por fim, a senhora Carmen Pena (ou Penna), depois esposa de José Hermínio Perácio com o nome de Carmen Pena (ou Penna) Perácio.

Todas as pessoas ligadas à família Xavier com o sobrenome Pena (ou Penna) expressam pessoas de um mesmo tronco familiar? No caso de Carmen Pena (ou Penna) Perácio a indagação é pertinente porque João Cândido Xavier era amigo do senhor José Hermínio Perácio e, por isso, é a ele que recorre em 1927 para socorrer a sua filha Maria da Conceição Xavier.

A amizade entre João Cândido Xavier e José Hermínio Perácio é citada por Silva (1996, p.31)

O senhor José Issa Filho, historiador de Pedro Leopoldo e amigo de infância de Chico Xavier, dá importantes pistas sobre a formação de alguns vínculos na família Xavier: Nelson Penna (esposo de Carmozina Xavier Pena) e Geni Pena (esposa de Josè Cândido Xavier) eram parentes de José Hermínio Perácio. (CARVALHO e MELO, 2010, p.37) Nelson e Geni seriam irmãos, talvez filhos de uma irmã de Carmen Pena (seria Nancy Penna?).

Outra hipótese de formação de graus de parentesco: Nelson, Geni, Carmen e Nancy (e, talvez ainda, Jacy Penna, esposo de Maria da Conceição Xavier, além de Maria Penna casada com Raimundo Cândido Xavier) eram irmãos. Nesse caso, Nelson, Geni, Jacy, Maria Penna (e, também, Nancy) eram cunhados de José Perácio; é uma hipótese provável devido aos sobrenomes Pena e Perácio.

O casal Perácio não parece ser apenas amigo da família Xavier. A busca de João Cândido Xavier por José Hermínio Perácio (e o imediato deslocamento daquele da Fazenda Maquiné, próxima ao município de Curvelo, a Pedro Leopoldo para atender ao pedido do João Cândido demonstra uma relação além da amizade: aponta para o senso de atenção e de responsabilidade familiar. E, mais: além de levarem Maria da Conceição Xavier para a fazenda, acompanhados de José Cândido e de Francisco Cândido Xavier, depois o casal Perácio muda-se para Pedro Leopoldo e lá permanece de 1928 a 1934.

Carmen Pena Perácio, esposa de José Hermínio, manifestava alterações de comportamento atribuídas posteriormente a ação de espíritos infelizes: a cura de Carmem é atribuída a um espírita do Rio de Janeiro, ligado à Federação Espírita Brasileira, amigo do casal Perácio e de nome José Cândido de Andrade (conhecido por Juca Andrade), morador do município mineiro de Sete Lagoas, amigo da família Xavier. A essa época, Carmen e José Hermínio eram espíritas praticamente iniciantes. O casal tornou-se efetivamente espírita por força da "enfermidade" obsessiva e cura de dona Carmen, por intervenção do médium José Cândido de Andrade. (HARLEY, 2010, ps. 155 – 158)

As ligações das famílias Pena, Perácio e Xavier com Juca Andrade (vinculado à Federação Espírita Brasileira) esclarecem a cordialidade e a presteza com que Manuel Quintão recebe as cartas do jovem Xavier, publica poemas por ele assinados e, poucos meses depois, lança o livro mediúnico Parnaso de Além Túmulo: as ligações familiares e as ligações fraternais consolidaram naturalmente as ligações doutrinárias. Há registros de cartas de Manuel Quintão a Chico Xavier em março de 1930, abril-setembro-outubro de 1931 e outra de dois de abril de 1932 quando Quintão anuncia ao jovem médium a decisão de publicação do Parnaso de Além-Túmulo. (XAVIER, ESPÍRITOS DIVERSOS, 2010, ps. 18 e 19) Nas palavras de Chico Xavier sua correspondência com Manuel Quintão tornou-se plenamente ativa a partir de 1932. (BARBOSA, 1975, p. 111)

Nessa constatação, desfaz-se a aparente fortuidade de relações entre supostos meros conhecidos atendendo a um chamamento do Alto.

Nas reuniões iniciais do Grupo Espírita Luís Gonzaga, em Pedro Leopoldo, José Hermínio Perácio e Carmen Pena Perácio tanto consolidavam o conhecimento sobre Espiritismo e o desenvolvimento mediúnico quanto alguns membros da família Xavier – mais exatamente José Cândido Xavier e Francisco Cândido Xavier: desfaz-se a aura em torno do casal Perácio diante do qual Chico se coloca na posição do aprendiz incipiente e ignorante sobre Espiritismo. Com isso não se pretende diminuir a relevância histórica e espírita do casal Perácio na vida mediúnica inicial e sistemática de Chico Xavier, mas acentuar a posição de apoio e de auxílio mútuos e não de mestria.

Carmen Pena Perácio, após libertar-se das perturbações espirituais e, particularmente a partir de junho de 1927, passou a desenvolver as mediunidades de cura, de clarividência, de clariaudiência, de psicografia. Chico Xavier refere-se a ela na condição de "médium de muitas faculdades". (BARBOSA, 1975, p.30; MATTOS, 2000, p.23)

Além das reuniões habituais no Grupo Espírita Luís Gonzaga, José Hermínio Perácio, Carmen Pena Perácio (já morando em Pedro Leopoldo) e Chico Xavier também realizavam reuniões espíritas na residência do casal: nessas reuniões íntimas, Chico recebeu, a partir de agosto de 1931, as poesias da primeira edição do Parnaso de Além Túmulo: segundo testemunha a própria dona Carmen, noites havia em que Chico psicografava, além de mensagens familiares, três poemas de poetas diferentes. (BARBOSA, 1975, p.165) Esta informação é historicamente relevante pois atesta que, desde 1931, Chico Xavier recebia comunicações de espíritos familiares; hoje, tais comunicações são chamadas de Cartas Familiares.

Em Pedro Leopoldo e nas reuniões íntimas na residência do casal Perácio, enquanto Chico Xavier psicografava, dona Carmen via e identificava os espíritos comunicantes e anotava com antecipação os seus nomes (antes de serem escritos mediunicamente por Chico) e desenhava-lhes o rosto, conforme sua vidência mediúnica. (MATTOS, 2000, p.24)

José Jacynto de Alcântara escreve sobre os traços de personalidade de Carmen Pena Perácio:


"Dama de simpatia irradiante, caráter impoluto, vidente extraordinária, possuía a rara faculdade de psicografar simultaneamente com as duas mãos. Serena, discreta, semblante sério, impunha respeito e admiração. Sem esconder emoções, demonstrava imensa veneração pelas sessões de psicografia. Compenetrava-se da responsabilidade do ato histórico que desempenhava." (MATTOS, 2000, p.24)

 O casal Perácio teve, pelo menos, três filhas: Áurea, Enid e Ruth. Para Áurea e Enid Chico Xavier escreveu um poema, homenageando-as. (XAVIER, ESPÍRITOS DIVERSOS, 2010, p.78) Informações sobre outros filhos do casal Perácio não foram encontradas por mim, até o momento.

No ano de 1934, a família Perácio muda-se para a cidade de Belo Horizonte, em residência na rua Genoveva de Souza, número 864, bairro Sagrada Família.

Em julho de 1967 e em edição extra, o jornal O Espírita Mineiro, da União Espírita Mineira, publicou a entrevista realizada por Jose Martins Peralva com Carmen Pena Perácio; tal entrevista era uma homenagem aos 40 anos de mediunidade de Chico Xavier e também foi publicada por Elias Barbosa em outubro de 1967.

No mesmo ano de 1967 em que o movimento espírita comemorava os 40 anos de mediunidade de Chico Xavier, o médium pedia para que não se esquecessem de duas outras personalidades mediúnicas:


"... peço permissão para recordar aqui dois exemplos, quais sejam nossa irmã Dona Carmen Pena Perácio, em Belo Horizonte, e nossa irmã Antusa Ferreira Martins, aqui mesmo em Uberaba, missionárias fiéis da mediunidade, em serviço ininterrupto, há mais de quarenta anos consecutivos. Cabe-me dizer que devo a Dona Carmen Pena Perácio a felicidade de minha iniciação mediúnica, guardando para com ela uma dívida de gratidão e de amor que jamais conseguirei resgatar." (BARBOSA, 1975, p.70)

Eis mais um traço permanente da personalidade de Chico Xavier: jamais se esqueceu dos companheiros espíritas da primeira hora e aqueloutros da última hora, enaltecendo-lhes o trabalho e a abnegação, hipotecando-lhes carinho, gratidão e reconhecimento.
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 Ao final deste breve comentário, faço um apelo: para a contemporaneidade e para a posteridade, é de suma importância a divulgação de dados precisos da existência atual das pessoas, como por exemplo, data de nascimento, data de falecimento, nome de pais e seus descendentes. Isso também é cuidado com a memória espírita e também fundamental para a História do Espiritismo no Brasil, além de contribuir para estudos acadêmicos no campo das Ciências da Religião: é um desserviço ao Espiritismo esperar a morte física das pessoas para que algum desses espíritos ou seus conhecidos se dignem a fazer revelações pós-morte, utilizando-se de médiuns.
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BIBLIOGRAFIA
 
-ARANTES, Hércio Marcos Cintra, organizador. Notáveis reportagens com Chico Xavier. 2. ed. Araras: Ide. 2003
-BARBOSA, Elias. No Mundo de Chico Xavier. 2. ed. Araras: Ide. 1975
-CARVALHO, Antônio Cesar Perri de; MELO, Oceano Vieira de, organizadores.      Depoimentos sobre Chico Xavier. Brasília: FEB. 2010
-HARLEY, Jhon. O Vôo da garça: Chico Xavier em Pedro Leopoldo 1910 – 1959. Belo Horizonte: Vinha de Luz. 2010
-MATTOS, Divaldinho. Chico Xavier em Pedro Leopoldo. Votuporanga: Didier. 2000
-XAVIER, Francisco Cândido; ESPÍRITOS DIVERSOS. Chico Xavier: o primeiro livro. Pedro Leopoldo: Vinha de Luz. 2010.

Carlos Fernandes
Enviado por Carlos Fernandes em 19/08/2012
Alterado em 19/02/2013


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