Na concepção historista e hermenêutica de Paulo Reglus Neves Freire ensino e aprendizagem são um mesmo ato e processo político de formação e de transformação de pessoas aonde "quem forma se forma e re-forma ao formar e quem é formado forma-se e forma ao ser formado [...] quem ensina aprende ao ensinar e quem aprende ensina ao aprender."[1] A essa relação hermenêutica –e não dialética- de ensino-aprendizagem aonde não existe professor e aluno denomina dodiscência.
A hermenêutica é a ciência filosófica da linguagem da experiência e da experiência da linguagem: o pensamento pedagógico de Paulo Freire funda-se na linguagem historiada da experiência humana compartilhada e mediada pelo mundo histórico-social. Essa linguagem historista e compartilhada é o instrumento político para o diálogo de experiências, leitura crítica e da realidade histórico-humana e mudança das condições/situações de opressão.
A racionalidade hermenêutica e historista de Freire coloca a mediação para o conhecimento, ensino, aprendizagem no vivência e na experiência do mundo histórico-social: não é mediação por alguma abstração, tal como o método, o intelecto ou a razão pura.
O mundo histórico ou mundo da vivência no Historismo de Guillermo Dilthey ou o mundo da vida na Fenomenologia do Espírito de Martin Heidegger é o mundo político de Freire –a mediação da experiência dialógica entre pessoas no ato e processo político de ensino-aprendizagem.
Repetindo: a Pedagogia Política de Paulo Freire não está centrada no aluno ou no professor, mas na experiência dialogada e compartilhada das pessoas mediada pelo mundo histórico-social.
A Pedagogia Política de Paulo Freire não é Pedagogia, Educação, Ensino, Aprendizagem fundadas na Problematização, mas na conscientização (despertamento histórico-analítico da situação de vida humana) - reflexão (leitura crítica da realidade) – ação (desestruturação-reestruturação da realidade) – reflexão.
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O conceito aprender a aprender e sustentado nos quatro pilares de educação, defendidos pela UNESCO, foi originalmente apresentado em 1959 por Paulo Freire e republicado em 2001: precisamos de uma escola "que se faça uma verdadeira comunidade de trabalho e de estudo, plástica e dinâmica. E que, ao em vez de crianças e mestres a programas rígidos e nocionalizados, faça com que aqueles aprendam sobretudo a aprender".[2]
A Pedagogia Política de Paulo Freire, desde as suas primeiras formulações no final dos anos de 1950, sustenta-se no conceito de aprendizagem significativa porque política. e expressa no universo vocabular ou temas geradores, compaginados no diálogo esclarecedor das experiências significativas das pessoas; nos temas e as palavras geradoras utilizadas no processo de conscientização das condições e das situações históricas de vida das pessoas; nos círculos de cultura para leitura crítica e mudança da realidade de opressão, de consciência ingênua, de educação bancária para a consciência crítica, educação libertadora e segundo uma Pedagogia para a autonomia.
Na Pedagogia Dialógica de Romão,[3] herdeira da Pedagogia Política de Paulo Freire, os quatro pilares da UNESCO para a educação são concebidos como quatro re-aprenderes: a) re-aprender a conhecer, b) re-aprender a fazer, c) re-aprender a conviver, d) re-aprender a ser.
Gadotti,[4] ao propor uma Pedagogia do Conflito e uma Filosofia Crítica da Educação, faz da aprendizagem um ato político formador de consciência crítica pela leitura histórica da realidade.
[1] FREIRE, Paulo. Pedagogia da autonomia: saberes necessários à prática educativa. 8a ed. Rio de Janeiro: Paz e Terra. 1998; p.25
[2] FREIRE, Paulo. Educação e atualidade brasileira. São Paulo: Instituto Paulo Freire. 2001; p.85
[3] ROMÃO, José Eustáquio. Pedagogia dialógica. São Paulo: Cortez/Instituto Paulo Freire. 2002.
[4] GADOTTI, Moacir. Educação e poder: introdução à Pedagogia do Conflito. 11. ed. São Paulo: Cortez. 1998