GERALDINA PEREIRA FERNANDES (*23.Junho.1913; +23.Julho.2002)
Textos


O prefixo grego –an significa no alto, em cima; no alto de, sobre; de baixo para cima; por, através de; durante.
Tropo, do grego trópos, significa direção, atitude, modo, maneira, melodia, tom, estilo, conduta, caráter.
An-tropo-logia terá a significação de estudo ou tratado de direção, atitude, modo, maneira, estilo, conduta, caráter; antropologia do cuidado é o estudo ou tratado de uma atitude (direção, modo, maneira, estilo, conduta, caráter) de cuidado.
ANTROPOLOGIA DO CUIDADO inclui, além de uma antropologia ambiental, uma antropologia da pessoa e uma antropologia do corpo, sabendo-se que a situação imanentemente histórica e social humana é uma situação de finitude e de corporidade dependente (inclusa e co-existente ao) do meio ambiente: portanto, não existe fragmentação lógica, epistemológica, metodológica e vivencial entre psicologia antropologia história. Essa é, pois, uma antropologia de conteúdo vivencial de pessoas e de coletividades, construtoras, destruidoras e reconstrutoras do mundo histórico em que se sucedem gerações com os seus sistemas culturais e de organização interna e externa de suas sociedades, herdeiras absolutas, gratas ou ingratas, das gerações que as antecederam.
Antropologia do Cuidado é área epistêmica e transdisciplinar por mim criada[1] para:
a)estudo das formações sócio-étnicas da Arte do Cuidado e análise de suas formas assumidas no Brasil;
b)estudo hermenêutico das configurações histórico-étnicas da Arte do Cuidado registradas nos diversos Brasis e análise do modo pelo qual conformaram a memória de cuidado e a memória de não cuidado da sociedade e da cultura brasileira;
c)análise das expressões étnico-sociais da Arte do Cuidado e do Não Cuidado e suas formas discerníveis no Brasil, bem como as estruturas de poder a elas correspondentes;
d)análise crítica das construções sócio-étnicas e ideológicas da Arte do Cuidado e do Não Cuidado pelas quais se tem elaborado a memória de cuidado e a memória de não cuidado no Brasil.
Para a compaginação da historiografia Arte do Cuidado, do não cuidado e do autocuidado no Brasil – um dos objetos de estudo da Antropologia do Cuidado - parto de periodizações possíveis a serem evocadas ou criadas, aqui citadas e mais amplamente discutidas no capítulo dois. Respeitando-se as investigações arqueológicas e as pesquisas históricas, pode-se sugerir a seguinte periodização geral:[2]
-Período Lítico (aproximadamente 50.000 a 9.000 anos atrás), dividido em Pré-pontas e Paleoíndio;
-Período Arcaico (aproximadamente 9.000 a 2000 antes de Cristo);
-Período Formativo (aproximadamente 2000 antes de Cristo ao século um depois de Cristo);
-Período das Chefias, Florescente e Expansivo (aproximadamente século um depois de Cristo a 1500);
-Período de transição escravocrata (entre 1500 e 1549);
-Período escravocrata (1549 a 1850);
-Período neoescravocrata (1850 a 1930);
-Período da Nova República (1930 a 1985);
-Período Democrático (1985 até hoje).
Para o estudo da Arte do Cuidado no Brasil, pode-se enfatizar momentos históricos, particularmente entre os séculos XVI e XX, nos quais mudanças, transfigurações, mutações, compulsões e coerções ecológico-bióticas, tecnológico-culturais, sócio-econômicas, ideológicas e psicológicas ocorreram e continuam vigentes.
-de 1500 até 1549: das artes e dos saberes indígenas de cuidar sem a presença dos jesuítas;
-de 1549 a 1759: das artes e dos saberes de cuidado com a presença dos jesuítas até a sua expulsão;
-de 1759 a 1808: das artes e dos saberes de cuidado sem os jesuítas até a fuga da família real portuguesa para o Rio de Janeiro;
-de 1808 a 1888: das artes e dos saberes de cuidado com a fuga da família real portuguesa para o Brasil até a abolição oficial da escravidão negra;
-de 1888 a 1922; das artes e dos saberes de cuidado desde a abolição oficial da escravidão negra até o Congresso dos Práticos no Rio de Janeiro;
-de 1923 a 1964: das artes e dos saberes de cuidado desde a institucionalização da enfermagem profissional até o golpe militar de 1964;
-de 1964 a 1985: da Arte do cuidado durante a ditadura militar no Brasil;
-de 1985 a 1999: da Arte do cuidado pós-regime militar até o final do século XX;
-de 2000 em diante: da Arte do cuidado e a história do corpo na atualidade.
Outra forma de se estudar a Arte do Cuidado é manter a multidiversidade cultural e regional do Brasil na história, a partir das indicações de Darcy Ribeiro:
-a Arte do Cuidado no Brasil Indígena;
-a Arte do Cuidado no Brasil luso-indígena;
-a Arte do Cuidado no Brasil Crioulo;
-a Arte do Cuidado no Brasil Caboclo;
-a Arte do Cuidado no Brasil Sertanejo;
-a Arte do Cuidado no Brasil Caipira;
-a Arte do Cuidado nos Brasis Sulinos.
Em qualquer um desses momentos, estamos diante de um mar empírico de história, de um tecido emaranhado da história, enfim, de trajetórias e memórias de corpo a serem conhecidas, compreendidas, entendidas, esclarecidas para compor a história e a historiografia da Arte do Cuidado no Brasil.
A Antropologia do Cuidado, não se limita necessariamente ao estudo da história e da historiografia da Arte do Cuidado no Brasil, estendendo-se a quaisquer comunidades, povos, nações, sobretudo potencializando tanto a formação de consciência e memória históricas, quanto para o desenvolvimento de responsabilidade social e sanitária.
Finalmente, Antropologia do Cuidado sinonimiza à historiografia da arte do cuidado, à antropologia histórica do cuidado e à antropologia hermenêutica do cuidado.
 

[1] FERNANDES, Carlos Roberto. Bases teóricas da Antropologia do Cuidado ou da história e historiografia da Arte de Cuidado no Brasil. Anais do 2o. Colóquio Latino-Americano de História da Enfermagem; 2005 Set 12-15; Rio de Janeiro, Brasil. Rio de Janeiro: ABEn – Seção RJ; 2005. [CD-ROM]
[2]TENÓRIO, Maria Cristina, organizadora. Pré-História da Terra Brasilis. Rio de Janeiro: UFRJ. 2000
Carlos Fernandes
Enviado por Carlos Fernandes em 22/08/2008
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