GERALDINA PEREIRA FERNANDES (*23.Junho.1913; +23.Julho.2002)
Dr. Carlos Fernandes
Membro da Associação Brasileira de Enfermagem Forense - ABEFORENSE
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Textos
A afronta de Esmirna ou de sua mãe a Afrodite tem terrível conseqüência: a deusa de todo amor e de toda beleza institui a punição do incesto. Com incoercível paixão incestuosa pelo pai, Esmirna quer dar consecução ao seu desejo de ser por ele possuída sexualmente: não se trata de um suposto complexo de Electra, mas de um possível complexo de inferioridade desencadeando o desejo de competir beleza com outra mulher: a competição de uma mulher com outras mulheres denigrem e enfurecem a psique feminina tanto quanto a competição de um homem com outros homens denigrem e enfurecem a psique masculina.

O plano deliberado de Esmirna para ter relações sexuais com o pai exige a cooperação de sua escrava Hipólita: por esta ajudada, Esmirna consegue enganar o pai e com ele praticar sexo durante doze consecutivas noites.

Na décima segunda noite de relações sexuais entre pai e filha, Téias descobre a armação de Esmirna: sua reação foi perseguí-la e matá-la.

Noutra versão, aterrorizada pelo desejo sexual sentido pelo pai, Esmirna decide matar-se por enforcamento.
 
A escrava Hipólita, conhecendo o propósito de suicídio de Esmirna, resolve ajudá-la a dar consecução à sua paixão sexual pelo próprio pai: a intervenção de ajuda deliberada por Hipólita concretiza o desejo de Esmirna, filha e amante do pai.

Esmirna desvia a reverência ao deus Falo, encarnado no pai de pênis ereto: entretanto, o pai de  Esmirna não é o próprio deus, mas a encarnação dele em seu pênis ereto.

Porque Esmirna e Téias (ou Cíniras) têm relações sexuais durante doze noites?

Doze é símbolo da completude de um ciclo, da ordem existente no Cosmos, da perfeição, da unidade: a representação dessa completude e dessa ordem está nos 12 meses do ano, nos 12 signos do zodíaco, nos 12 grandes deuses gregos do Olimpo, nos 12 discípulos de Mitra e de Lao-Tsé e, posteriormente, na época de Jesus, estará nos seus doze apóstolos.

Ora, em verdade,  Esmirna não está sendo castigada: está num rito de passagem para o processo de individuação.

O "castigo" imposto por Afrodite é a introdução de Esmirna num ritual de iniciação: a própria Afrodite é a mestra de Esmirna naquele ritual. Não se trata, pois, de um castigo: é preciso contemplari e considerare por detrás da aparência do mito.

O rito da iniciação de Esmirna está simbolizado em sua aproximação ao deus Falo, encarnado no pai: nesse sentido, o deus Falo está simbolizando o arquétipo animi.

Esmirna está sendo iniciada para abandonar os limites sexualizados dos arquétipos anima e animus: deverá digerir e integrar em sua personalidade o arquétipo animi; para isso, deve superar a ligação parental, deixar de ser menina e tornar-se mulher.

Porque o deus Falo só encarna no pênis ereto do homem, Mirra deve encarnar a deusa Afrodite: em verdade, não é Esmirna mas Afrodite que se deita com o rei Téias.

No ritual de iniciação, Esmirna é a prostituta sagrada encarnando a deusa Afrodite com sua força e potência fálicas.

A ajuda da aia Hipólita complica o processo iniciático de Esmirna porque, ao invés de ajudá-la a encarnar a deusa Afrodite, o seu auxílio é para enganar o pai de sua ama: possivelmente, Hipólita embebedava o pai de Esmirna e as relações sexuais entre os dois se dava na escuridão.

O processo iniciático de Esmirna sofre um desvio, perante o qual é necessário a intervenção dos deuses. Essa intervenção dos deuses deve ser lida como a intervenção de forças ou potências íntimas para que o ritual de iniciação de Esmirna não seja comprometido.

Quando um homem encarnando o deus Falo é enganado a ofensa do engano é ao próprio deus nele encarnado e não ao homem de carne e osso.

A raiva, a perseguição e o desejo de assassinar a filha, vivenciados pelo pai de Esmirna, simbolizam a fúria do deus Falo diante da redução da energia fálica à energia genital.

A fúria do deus Falo confunde-se com a fúria masculina: quando a fúria do deus Falo atinge o supremo grau acontece a castração masculina.

No caso de Esmirna, não há o limite máximo da castração masculina porque o engano não procedeu da vontade do homem; mas, o ciclo das doze noites do seu rito iniciático não se completa. Na décima segunda noite, o pai percebe-se enganado e quer assassinar a filha.

Carlos Fernandes
Enviado por Carlos Fernandes em 22/02/2009
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