GERALDINA PEREIRA FERNANDES (*23.Junho.1913; +23.Julho.2002)
Dr. Carlos Fernandes
Membro da Associação Brasileira de Enfermagem Forense - ABEFORENSE
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Textos
Em sua fuga contra a morte, Esmirna pede e recebe a proteção dos deuses: estes a transformam numa árvore batizada com o nome de Mirra, livrando-a de ser assassinada pelo pai.

Noutra versão, após concretizar doze noites consecutivas de paixão sexual com o pai, Esmirna foge, escondendo-se na floresta: Afrodite, sentido compaixão pelo sofrimento da jovem filha e amante do próprio pai, a transforma na árvore Mirra.
 
Os meses se passam e a casca da mirra se torna inchada: curiosa é a comparação da gravidez com inchaço. Este inchaço nos remete a comparar a gravidez de Esmirna com um processo de inflação priápica; neste caso, podemos falar na inflação psíquica de Esmirna.

No décimo mês de gravidez a casca da árvore se abre e nasce Adônis: ainda noutra versão, o próprio pai e amante de Esmirna abre a casca da árvore e de dentro dela retira o filho. Nesse caso, o pai não persegue nem quer matar a filha pois ela própria foge.

O sentimento de compaixão de Afrodite pelo sofrimento de Esmirna expressa a colegialidade de uma mulher por outra mulher: a versão mítica de fúria é fundamentalmente oposta à versão mítica da colegialidade e da compaixão da deusa.

Nenhuma versão mítica pode ser descartada ou privilegiada em detrimento de outra: em essência, permanecem os temas da fuga e da gravidez não planejada de Esmirna.

A transformação da filha e amante de Téias ou Cíniras na árvore Mirra é mais um rito de passagem dentro do ritual de iniciação: as mudanças de nome, de condição e de situação humana são imprescindíveis ao rito de passagem.

Vale recordar as características da árvore Mirra pois nelas estão as próprias características da psique da mulher, em processo de individuação e de integração do arquétipo animi.

Matas, solos férteis e muito sol são os ambientes preferenciais de crescimento da árvore Mirra: árvore altiva, podendo atinge cinco metros de altura, também é cheia de espinhos, suas flores são vermelho-amareladas, seus frutos são cheios de pontas; aberturas em suas cascas produzem uma resina.

Secada, a resina da Mirra tem propriedades farmacêuticas, cosmetológicas e aromáticas, sendo igualmente usada como aditivo na produção de vinho; sua fragrância de terra é apreciada para a produção de incensos.

Desde a mais alta antiguidade egípcia, incensos de mirra são usados em funerais, cremações e, a partir da idade média européia, a igreja católica os utilizam em suas missas.
Na atualidade, a cosmetologia utiliza a resina de mirra para a fabricação de loções, perfumes, pomadas, pastas dentais, bálsamo para os lábios, unguentos.

A seiva amarga, apimentada e quente da mirra fez com que diversas culturas dessem-lhe a qualidade de lágrimas amargas: o seu incenso é, pois, usado para fortalecer o espírito nas situações de amargos sofrimentos.

Em Botânica, o nome da resina da mirra éCommiphora molmol; seus principais princípios ativos compõem-se dos seguintes elementos químicos:pinene, dipentene, hirabolene, limonene, cadinene, ácido fórmico, ácido acético, ácido mírrico, eugenol, cinamaldeído, cuminaldeído e resinas.

Os egípcios utilizavam a mirra como ingrediente de mumificação pelas propriedades farmacológicas antissépticas, bactericidas, antifúngicas e antiviróticas de sua resina; o seu incenso era usado para homenagens de culto ao deus Sol.

Para os egípcios da antiguidade, Atum é o nome do deus sol nascente e ao entardecer, Rá ou Ré é o nome do deus sol ao meio dia; posteriormente, integraram o culto a Atum e Rá ao deus carneiro Amon de Tebas e o culto ao sol torna-se o culto ao deus Amon Rá.

Não é irrelevante assinalar a inversão da mitologia egípcia pela mitologia grega: para os egípcios, a Terra é um deus masculino – Geb, irmão e marido de Nut – a deusa do céu, acolhedora dos mortos e representada pela vaca. Os conceitos de gênero para os egípcios não têm os preconceitos de gênero para os gregos e os romanos.

O culto egípcio ao deus da Terra, Geb, era feito com o incenso de mirra: eis a ligação que faço de Mirra ao deus grego Falo – deus da terra, da fertilidade.

Outro fato importante e característico da árvore mirra: a sua propagação se dá por suas sementes, na primavera, ou por estacas ao fim do seu estágio de crescimento. E mais: a árvore mirra é nativa do nordeste da África (o Egito é país africano), embora também seja encontrada no médio Oriente, Índia e Tailândia.


O nascimento de Adônis é uma revolução de beleza, despertando amores e paixões: essa beleza mítica é por mim denominada de corporalidade fálica.

Carlos Fernandes
Enviado por Carlos Fernandes em 22/02/2009
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