Para a Enfermagem, o sentido do olfato é clinicamente fundamental, tanto no que se refere à percepção e à discriminação dos odores quanto aos aspectos emotivo-motivacionais e efeitos fisio-comportamentais do olfato.
Talvez mais que as dimensões anatômicas, fisiológicas e neurológicas do olfato, @s profissionais do cuidado devem se interessar pelo estudo dos odores emanados do corpo das pessoas cuidadas. Nesse caso, a restrita avaliação física de Enfermagem do nariz é quase descartável, conforme se apresenta no atual ensino de Semiologia e Semiotécnica.
Profissionais do cuidado convivem com vários odores derivados dos corpos das pessoas cuidadas; da mesma forma, pode-se falar em odores do cuidado, odores do autocuidado e odores do não cuidado.
Pessoas, ambientes, instrumentos e objetos limpos, higienizados, assépticos ou esterilizados traduzem odores do cuidado e do autocuidado; pessoas, ambientes, instrumentos e objetos não limpos, não higienizados, não assépticos ou não esterilizados traduzem odores do não cuidado.
O olfato de cuidado caracterizará aspectos fundamentais de cura, de cuidado e de alívio pela criação e promoção de conforto físico, ambiental e social, além de promover segurança e proteção.
Na Taxonomia NANDA, de diagnósticos de Cuidado, o domínio 10 (Princípios de Vida), o domínio 11 (Segurança/Proteção) e o Domínio 12 (Conforto) são as bases diagnósticas para o olfato de cuidado.
O Domínio NANDA de Princípios de Vida tem as classes de Valores, de Crenças e de Coerência entre Valor/Crença/Ação: há valores, crenças e ações diferentes e de diversas culturas quanto a questão dos odores.
O Domínio NANDA Segurança/Proteção tem as classes de Infecção, Lesão Física, Violência, Riscos Ambientais, Processos Defensivos e Termorregulação: cada uma dessas situações de enfermagem tem específicos e estudáveis tipos de odores.
O Domínio NANDA Conforto tem as classes de Conforto Físico, Conforto Ambiental e Conforto Social; de igual, todas estas expressões de conforto e aquelas do não conforto tem tipos específicos de odores.
Um quadro sumário apresenta alguns odores desagradáveis, locais em que aparecem e suas possíveis causas.
O olfato pode ser interpretado como uma dimensão diferenciada do tato e da visão. A tradição popular, não raro responsável pelas tradições religiosas, registra discriminações de pessoas através de odores, de cheiros e do faro de suas qualidades: evidências desse registro estão nas expressões “cheiro de virtude”, “cheiro de vício”, “cheiro de coisa errada”, “perfume do bem”, “perfume do mal”, “perfume de Deus”, “cheiro do diabo”, “cheiro do amor”, “cheiro do ódio”, “perfume da santidade”, “cheiro de pecado”, “perfume da sensualidade”, “odor irritante”, “odor calmante”, “cheiro da tristeza”, “perfume da alegria”, “cheiro da saudade”, “cheiro de bebê”, “cheiro de homem”, “cheiro de mulher”.
Odores criam, despertam e mantém imagens visuais, orais e desejos, inclusive sexuais: farejar e cheirar são ações decifratórias dos odores exalantes e característicos de cada pessoa, de cada corpo. Nesse sentido, o olfato é órgão exteroceptor mnêmico, igualmente capaz de despertar e de reavivar memórias de pessoas, de coisas e de acontecimentos remotos com sua “aura olfativa”.
Além do caráter decifratório, o odor do corpo de alguém inclui ou exclui, afasta ou aproxima, cativa ou aborrece: nesse caso, os odores do corpo têm dimensões interpessoais.
Os cheiros e os odores de uma pessoa são a carteira de identidade dessa pessoa: secreções e excreções do corpo trazem os odores característicos não apenas por suas propriedades bioquímicas mas psico-emocionais, psico-afetivas, psico-comportamentais.
A composição, a expressão e a significação física e também mágica ou simbólica dos odores do corpo são campos de interesse teórico e prático da Enfermagem.
Carlos Fernandes
Enviado por Carlos Fernandes em 17/08/2009