GERALDINA PEREIRA FERNANDES (*23.Junho.1913; +23.Julho.2002)
Dr. Carlos Fernandes
Membro da Associação Brasileira de Enfermagem Forense - ABEFORENSE
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Textos
Para Tomás de Aquino, ratio é capacidade do pensamento conceptual e discursivo, ou seja, do pensamento racional estritamente concebido como mediação e conclusividade; intellectus é capacidade de percepção espiritual imediata, ou seja, capacidade para intuir o imediatamente dado. Noutros termos, ratio, na lógica tomista, é capacidade de operar a síntese ou a unidade da multiplicidade e intellectus é apreensão imediata da unidade e da totalidade nas quais está contida a multiplicidade.

Para o cardeal alemão Nicolau de Cusa, ratio é a razão distintiva, formuladora de conceitos, delimitane e separadora das coisas; intellectus é percepção espiritual imediata, ordenadora da unidade e do infinito e não ordenadora de opostos ou dicotomias. Em Cusa, ratio é limitante, mensurável e numerável; intellectus é supraconceptual, imensurável e não numerável.

Pascal inventa as expressões esprit de finesse para significar intelligence (inteligência) e couer (coração) e esprit de géométrie para significar a pura razão (ratio ou raison) e próprio do pensamento racional-matemático. Em Pascal o esprit de finesse (espírito de fineza) sobrepuja em superioridade o esprit de géométrie (espírito de geometria).

Kant utiliza-se da palavra alemã vernunft (que é, na verdade, intelecto) para significar razão, faculdade superior e captadora da unidade não objetiva e superconceptual, domínio transcendental da faculdade pensar, das totalidades universais, fora do campo vivencial ou experiencial; e emprega a palavra alemã verstand  (que seria razão) para significar entendimento ou faculdade inferior e finita do conhecimento objetivo e do pensamento categorial.

Hegel utiliza-se da palavra verstand para significar a faculdade limitante e separadora por oposições dos conteúdos individuais finitos; e da palavra vernunft para a faculdade especulativa pela qual se alcançaria a unidade dialética de todas as oposições. Nesse sentido, parece-me que Hegel intenta retomar à significação de intuição para vernunft.

Aberrações filosóficas foram feitas por René Descartes e Christian Wolff.

Para Descartes, ratio significa razão e é pensamento conceptual lógico-matemático – o único tipo de pensamento e de conhecimento racional e científico; o pensamento cartesiano elimina a diferença entre ratio e intellectus e reduz ambos ao termo razão.

Wolff utiliza a palavra alemã vernunft para significar intelecto, por ele concebido na acepção de ratio ou pensamento racional e conceptual.

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Parto da concepção de que intuição é exatamente a faculdade ou o sentido integrado ou integrador de ratio e intellectus: não se trata de fusão ou de conexão.

A palavra alemã que não distingue ratio e intellectus é vernunft. Vernunft significa intuição e intuição significa intellectus.

Talvez ainda segundo a minha concepção se possa dizer que percepção é faculdade de sentir e de pensar via ratio e intuição é faculdade de sentir e de pensar via intellectus. Mas aqui eu estaria no continuísmo das dualidades (e não dicotomias) ratio e intellectus.

 O que tenho em mente são os seguintes pressupostos:

-intuição diferencia-se de raciocínio ou operação própria do pensamento dirigido, conceptual, discursivo;

-a lógica e a racionalidade próprias da intuição não são a do raciocínio do pensamento analítico, mecânico-matemático, instrumental;

-intuição não é uma função compensatória da percepção, mas é um tipo desenvolvido (=diferenciado e aperfeiçoado) de percepção.

-intuição não é uma faculdade ou capacidade corpopsíquica especulativa.

-intuição é um sentido humano integrado, integrador e desenvolvido (=diferenciado e aperfeiçoado) de todos os demais sentidos humanos conhecidos até o momento.

-intuição é um sentido humano altissimamente desenvolvido (=diferenciado e aperfeiçoado) e não um sentido indiferenciado.

-civilizações tradicionais quais a Hindu (oriental) e a Indígena (não ocidental e não oriental) têm amplos e sistemáticos conhecimentos sobre a lógica e a racionalidade da intuição.

Possivelmente, eu estarei retomando o itinerário ou aspectos fundamentais da Scientia Intuitiva de Benedicto Espinosa (1632 – 1677), para o qual conhecimento intuitivo é percepção das coisas em seus aspectos e relações eternos.

Espinosa concebe uma distinção entre ordem eterna (mundo das leis e da estrutura) e ordem temporal (mundo das coisas e dos incidentes), natura naturans (eterna atividade criadora ou aquilo que permanece acima da mudança) e natura naturata (mutável atividade produtora).

 A concepção espinosiana de natura naturans e natura naturata é muito mais que uma renomeação da realidade aparentemente dualizada em Mundo Intelegível (mundo da matéria refinada e vibrátil, animada e dotada de sensibilidade) e  Mundo Sensível (mundo morto da matéria bruta ou compacta) de Platão; das duas qualidades cognoscíveis da Substância, res cogitans (coisa pensante = espírito) e res extensa (coisa pensada = corpo),  de Descartes; do mundo da mente (da psique, do Espírito) e do mundo corpo (da matéria, do físico) em que se divide a concepção de ciência no mundo ocidental; do mundo espiritual e do mundo corporal (particularmente do Espiritismo); da própria concepção chinesa de Yin e Yang; do céu e do inferno (das várias concepções derivadas do Cristianismo).

O pensamento de Espinosa em sua Filosofia da Identidade, parece-me, explicitar os campos da criação, da criatividade, da ação criadora (eternas, fundamentais, permanentes no sentido do que permanece sob a mudança) e o produção, da ação produtora e da produtividade (mutáveis, acidentais ou atributos/propriedades): a primeira (natura naturans) é o processo ativo, vital da criação, a própria “substância” criativa; a segunda (natura naturata) é o conteúdo/a qualidade ou o resultado daquele processo ativo e vital. Mais explicitamente, a natureza criando e a natureza criada – o imanente e o incidente.

A intuição, tal qual a concebo, é algo da interseção natura naturans-natura naturata.

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BIBLIOGRAFIA

CORETH, Emerich. Questões fundamentais de Hermenêutica. São Paulo: EPU. 1973
DILTHEY, Wilhelm. Vida y Poesia. México: Fondo de Cultura Económica. 1978
DILTHEY, Wilhelm. Literatura y Fantasia. México: Fonco de Cultura Económica. 1997

FERNANDES, Carlos Roberto. Fundamentos do Processo Saúde-Doença-Cuidado. Rio de Janeiro: Águia Dourada. 2010


 
Carlos Fernandes
Enviado por Carlos Fernandes em 20/01/2011
Alterado em 02/02/2015
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