GERALDINA PEREIRA FERNANDES (*23.Junho.1913; +23.Julho.2002)
Textos

 No território milenarmente indígena dos povos conhecidos pelos nomes de Caiapó e Araxá ergueu-se tardiamente o povoado de Monte Carmelo.

A ambição pelos garimpos fez com que moradores de São João Del Rei e de Itapecerica, a partir de 1840, instalassem às margens do Córrego Mumbuca (hoje, bairro Tamboril) um povoado para acolher suas famílias – enquanto os garimpeiros atacavam os garimpos de diamante em Bagagem (hoje, Estrela do Sul).

Bagagem, Arraial do Carmo da Bagagem, Vila Nossa Senhora do Carmo da Bagagem e Monte Carmelo!

O arraial do Carmo da Bagagem teve esse nome porque foi erguida uma capela para nossa senhora do Carmo, em torno da qual se constituiu o povoado: hoje, essa área é a Praça da Matriz.

Em 6 de outubro de 1882, pela Lei Provincial nº 2927, o arraial tornou-se vila com o nome de Nossa Senhora do Carmo da Bagagem.


Em 24 de maio de 1892, pela Lei Estadual nº 23, houve o erguimento da vila em cidade e em 25 de junho de 1900, pela Lei Estadual nº 286, passou a chamar-se cidade de Monte Carmelo.

O nome Monte Carmelo é escolhido, pois, em 25 de junho de 1900.

Na outrora terra dos povos Caiapó e Araxá nasceu a criança batizada com o nome de Elias Barbosa; embora nascendo em 12 de julho de 1934,  foi registrado com data de nascimento em 4 de agosto de 1934.

Cronista e poemista desde os quinze anos de idade, Elias Barbosa publicou o fruto de sua sensibilidade e inteligência nos jornais de Monte Carmelo e região; a partir dos dezesseis anos era correspondente dos jornais O Estado de Minas, O Diário de Minas e O Diário – todos de Belo Horizonte.

No campo das Letras, Elias Barbosa é autodidata; seu talento de pesquisador pode ser avaliado nas páginas publicadas do Anuário Espírita – o órgão do Instituto de Difusão Espírita, de Araras – São Paulo e do qual é um dos fundadores e um dos colaboradores desde 1964: foi o responsável anual pela sessão Literatura e Espiritismo na qual demonstrou a sua vasta e profunda erudição: ao longo de quarenta e sete anos foram quarenta e sete extensas pesquisas publicadas em que várias personalidades literárias internacionais foram estudadas nas suas interfaces com o Espiritismo. Entre tais personalidades estudadas estão Dante Alighieri, Henry David Thoureau, Manuel Maria de Barbosa Du Bocage, William Shakespeare, Antônio de Castro Alves, Raul de Leoni, Raimundo Correia, François-Marie Arouet (de Voltaire).

O primeiro encontro pessoal de Elias Barbosa com o médium Chico Xavier deu-se na noite de 25 de julho de 1955, em Pedro Leopoldo – Minas Gerais; em suas visitas a Monte Carmelo, entre 1956 e 1959, Chico Xavier e Elias estreitaram os laços incorruptíveis de amizade (ou será de aliança?).

Em 1957 ingressou-se na recém-inaugurada Faculdade de Medicina do Triângulo Mineiro (FMTM), hoje Universidade Federal do Triângulo Mineiro (UFTM), em Uberaba – Minas Gerais (cidade para onde transferiu residência no ano de 1953), formando-se médico no ano de 1962.

Quando Chico Xavier mudou-se de Pedro Leopoldo para Uberaba, em 5 de janeiro de 1959, a amizade – aliança entre o médium pedroleopoldinense e Elias estava absolutamente consolidada: desde então, passou a trabalhar com o médium nas sessões de desobsessão da Comunhão Espírita Cristã e, igualmente, organizar obras mediúnicas para publicação.

O primeiro resultado do erudito talento metodológico de Elias Barbosa no campo das letras foi a organização do livro Antologia dos Imortais, psicografado pelos médiuns Chico Xavier e Waldo Vieira: esta obra foi publicada em 1962, seguida por TROVADORES DO ALÉM, publicada em 1964.

O primor intelectual da organização, do prefácio e das notas de ANTOLOGIA DOS IMORTAIS é o fruto da inteligência e da cultura de Elias Barbosa; esse talento ímpar coloca-se a serviço dos médiuns Francisco Cândido Xavier e Waldo Vieira e dos autores espirituais que escrevem as poesias.

O talento de Elias não é gratuito: o brilhante escritor e rigoroso analista literário manifesta as conquistas anteriores desse espírito; a sensatez metodológica de sua inteligência expressa-se na simplicidade de sua aparência física.

O seu prefácio e as notas biobibliográficas para TROVADORES DO ALÉM é fruto de estudo metódico e respeitoso de milhares de trovas dos autores espirituais, assinantes do acervo mediúnico-poético e de suas produções enquanto vivos no corpo físico.

Em sua aristocracia intelecto-moral, Elias Barbosa pede licença em TROVADORES DO ALÉM para homenagear Allan Kardec pelo primeiro centenário de lançamento de O EVANGELHO SEGUNDO O ESPIRITISMO, no ano de 1864.

As sintéticas biografias dos espíritos assinantes de ANTOLOGIA DOS IMORTAIS e de TROVADORES DO ALÉM, escritas por Elias Barbosa, revelam a sua paixão superior pela Arte Poética e a sua enciclopédica cultura literária.

Em 1964 era professor de Farmacologia da FMTM e em 1969 tornou-se médico assistente no Sanatório Espírita de Uberaba: desde então, dedicou-se ao campo da Psiquiatria.

Em 1964 casou-se com Cândida Flávia. Do casamento nasceram cinco filhos: Eliana, Ricardo, Luciana, Cláudio, Renato. Para Eliana e Luciana escreveu e publicou em livro, distribuído a familiares e amigos, duas centenas de trovas.

Em 01 de agosto de 1965, Elias Barbosa prefacia a primeira obra individual do espírito Cornélio Pires intitulada O ESPÍRITO DE CORNÉLIO PIRES; um prefácio de 22 páginas aonde a serenidade crítica e analítica é uma aula rara e expressiva de conhecimento do assunto a que se presta o prefaciador.

O ESPÍRITO DE CORNÉLIO PIRES, prefaciado por Elias, evoca o primeiro centenário de lançamento de O CÉU E O INFERNO OU A JUSTIÇA DIVINA SEGUNDO O ESPIRITISMO, publicado por Allan Kardec em 1865; a obra de Cornélio Pires explicita exatamente os mecanismos da Justiça Divina pela lei de ação e reação. E, nesta sintonia pedagógica e espiritual está a contribuição ímpar de Elias Barbosa à consecução da obra mediúnica publicada de Chico Xavier.

No ano de 1967, Elias Barbosa publica o livro de entrevistas intitulado NO MUNDO DE CHICO XAVIER, homenageando os 40 anos de atividade mediúnica de Francisco Cândido Xavier; nesta obra, Elias revela outro dom de vidas passadas – o de jornalista do bem. A seleção dos temas é criteriosa e atualíssima, sendo obra antológica de referência obrigatória para maiores aprofundamentos sobre a vida mediúnica de Chico Xavier: nenhuma apelação midiática, nenhuma linha descartável, nenhuma vírgula de autopromoção diante da personalidade de Chico Xavier. É o parceiro afinado com interesses superiores daqueles que representam tais interesses.

Elias Barbosa em NO MUNDO DE CHICO XAVIER leciona aos seus contemporâneos a seriedade de se escrever uma obra espírita jornalística: infelizmente, poucos são os escritores, biógrafos aprendizes desse rigor e dessa clareza doutrinária para compreender o mediunato de Chico Xavier.  

Novamente, não é mera coincidência: NO MUNDO DE CHICO XAVIER traz o prefácio de Elias Barbosa, escrito em 3 de outubro de 1967: centésimo décimo ano de lançamento de O LIVRO DOS ESPÍRITOS, em 1857, por Allan Kardec e no dia e mês de nascimento do Codificador do Espiritismo.

No ano de 1971 fez a Introdução do livro intitulado Entrevistas, publicado em 1972: a obra reúne entrevistas com Chico Xavier e foi organizada por Salvador Gentile e Hércio Marcos Cintra Arantes.

Em 1972, a 9ª. edição de Parnaso de Além Túmulo traz o enriquecimento das notas e estudos estilísticos cuidadosos de Elias Barbosa: tais análises reafirmam o senso apurado de pesquisador do nobre escritor e a sua requintada erudição.

Em 1970, coube a Elias Barbosa a iniciativa de organizar um estilo de obra mediúnica que iria revolucionar o modo de publicar mensagens mediúnicas de familiares desencarnados, recebidas por Chico Xavier: o livro Presença de Chico Xavier traz mensagens de espíritos, dirigidas aos familiares encarnados e é o primeiro livro ensaístico nesse contexto.

 Entre Duas Vidas, lançado em 1974, foi o primeiro de vários outros livros integralmente escritos com a finalidade de esclarecer e consolar pela mediunidade de Chico Xavier. Em tais livros, destacam-se tanto os estudos de Elias das mensagens psicografadas quanto o rigor na sistematização das informações dos familiares encarnados para esclarecimento de leitores e leitoras, após o recebimento das páginas mediúnicas.

Ao livro Entre Duas Vidas, seguiram-se a organização e a publicação de outros livros no mesmo estilo, sob sua responsabilidade: Enxugando Lágrimas (1978), Claramente Vivos (1979), Quem São (1982), Gabriel (1982), Horas de Luz (1984), Vitória (1987), Estamos Vivos (1993).

Fato histórico interessante: estudioso da obra e admirador ímpar de Humberto de Campos Veras, Elias Barbosa renasceu no mesmo ano em que desencarnou o grande Humberto. Nove meses antes do desencarne do escritor (dezembro de 1934), renascia Elias Barbosa.

Em 18 de abril de 2002 faz o Prefácio do livro Chico no Monte Carmelo, organizado por Marival Veloso de Matos e publicado em 2004: neste Prefácio, Elias Barbosa dá testemunho de ser o datilógrafo de muitas mensagens psicografadas por Chico Xavier, a fim de que as mesmas fossem encaminhadas às editoras espíritas. E, ainda: fala de seu trabalho, de domingo a domingo, inclusive de lenhador, até os 19 anos de idade, em Monte Carmelo – Minas Gerais.

O livro Chico no Monte Carmelo reúne mensagens psicografadas por Chico Xavier entre 1956 e 1959 quando visitava a cidade de Monte Carmelo e comparecia a reuniões públicas em casas espíritas: 23, 25 e 26 de julho de 1956, 22 e 26 de dezembro de 1956, 26 de dezembro de 1957, 22 e 24 de dezembro de 1958, 25 de dezembro de 1959

A máxima homenagem de Elias Barbosa a Humberto de Campos Veras e ao médium Chico Xavier foi a publicação, em 2005, do livro Humberto de Campos e Chico Xavier: a mecânica do estilo.

Amante da poesia, expressa de várias formas, Elias era exímio trovador: por isso, apresentei-o a Eva Reis e ele se tornou membro da União Brasileira dos Trovadores – delegacia de Uberaba.

O seu retorno à vida espiritual deu-se no dia 31 de março de 2011, às 16 horas, no Hospital São Domingos de Uberaba, com traumatismo cranioencefálico: o seu corpo está sepultado no Cemitério São João Batista, de Uberaba – Minas Gerais.

 

Carlos Fernandes
Enviado por Carlos Fernandes em 11/04/2011
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