Dedicação e Perseverança podiam ser seus cognomes com relação ao movimento espírita mineiro e, particularmente, na cidade de Uberaba.
Olavo Escobar Borges. Filho de Adriano Cruvinel Borges (falecido em 24 de julho de 1953) e Gasparina Escobar Borges, nasceu a 19 de agosto de 1917 e faleceu em Uberaba – Minas Gerais a 22 de maio de 2010: noventa e três anos de vida corpórea, de reencontro e de convivência com almas iluminadas que pisaram (por misericórdia) as terras mineiras e as terras de Uberaba no século XX.
Odontólogo e sempre chamado de "doutor Olavo" admirava-lhe o esforço e o capricho na preparação e na exposição de suas aulas, de suas palavras, de suas conferências, quase sempre acompanhado de seu projetor de slides: um explicador e explicitador da obra e do pensamento de Allan Kardec e de Chico Xavier.
Comigo, tenho um de seus livros de estudo permanente: "Seara dos Médiuns", de capa dura, cor azul, comprado por ele no dia 4 de julho de 1967, na extinta Livraria Espírita situada na avenida Leopoldino de Oliveira, número 318 e com a sua assinatura na primeira página. Este livro está recheado de anotações a lápis e a caneta com a sua letra, de traços azuis – vermelhos ou pretos, conforme julgava a necessidade de destaque de palavras, expressões e parágrafos. E assim era o seu método de estudo: os seus livros eram cadernos de anotações: dele herdei o mesmo hábito.
Ainda rapaz, fui o seu afilhado espiritual nas reuniões de mocidade do Grupo Espírita Bittencourt Sampaio, nas tardes de sábado; com ele e sua esposa Dora Boaretto Borges (1925 – 2010), fui apresentado ao Antônio Fonseca de Abreu e participei das reuniões do Centro Espírita Adelino de Carvalho, às quintas-feiras a noite.
Junto ao querido "doutor " Olavo outras grandes almas do Espiritismo uberabense partilhavam os deveres da orientação no caminho espírita: Antônio Fonseca de Abreu, Jarbas Leone Varanda, Inácio Ferreira, Adroaldo Modesto Gil, Emanoel Martins Chaves (o "seu" Lilito), a iluminada Antusa e... Chico Xavier.
Companheiro, aliás multicompanheiro de todos: se o assunto era Movimento Espírita, Espiritismo e Mediunidade a referência central de estudos era Olavo Escobar Borges: ele foi o diretor do Departamento de Mediunidade da Aliança Municipal Espírita de Uberaba.
Por influência dele, a fervorosa alma católica de Dora Boaretto Borges tornou-se igualmente espírita: formaram um casal espírita uberabense de referência obrigatória para a juventude.
Ainda me lembro, quando moravam na rua barão de Ituberaba: eu ia para o Colégio José Ferreira e na ida passava por sua casa. Sempre música clássica ou uma fita da cantora Joanna, "dona" Dora oferecia um café e outros mimos e, as vezes, atrevia-me a comer o famoso "mexido" que apenas um mineiro sabe fazer e apreciar.
Alias, a paixão de Olavo pela cantora Joanna fez-me apaixonar-se pela mesma também: íamos (ele, Dora e eu) para algum Centro Espírita da cidade e a primeira coisa que ele fazia ela colocar fitas da Joanna. Estávamos na era do toca-fitas. Nessa época, se me recordo bem, seu carro era um Corcel II branco.
Era ele, Olavo, que abastecia o Grupo Espírita Professor Chaves com fitas de músicas clássicas para as reuniões públicas e reservadas; assim também fazia no "Adelino de Carvalho" e nas reuniões de Culto Evangélico no Lar.
Outra presença marcante do casal Olavo e Dora: sensibilizavam pessoas a inaugurarem em suas casas o Culto Evangélico no Lar. E participavam das reuniões recém-abertas até que os moradores se sentissem fortalecidos e preparados para dispensar-lhes a presença. Invariavelmente, nessas reuniões estava presente igualmente minha irmã Jeanette Vitali Foroni.
Enquanto as forças físicas permitiram, ele e a queridíssima Dora mantiveram-se presentes nas reuniões espíritas: a estimadíssima Dora cuidava do figurino do esposo. Olavo estava sempre com o sapato e o cinto brancos.
Quantas lembranças!
Quantas saudades!
Minha querida amiga Dora estudava e preparava aulas de "Envangelho": por mais que eu quisesse, não tinha coragem de corrigi-la para que falasse e escrevesse "Evangelho". Eu a respeitava demais, não tinha sua altura espiritual para corrigi-la. O erro não era fruto de ignorância: era um hábito. Sempre que ia a sua casa, mostrava-me o caderno de anotações e o "Envagelho" e pedia meu veredito. Dizia ela: "o que você disser, eu faço, eu corrijo. Em você eu confio." Finezas de Dora: quem era eu para ombrear-lhe a cultura evangélica!? E digo isto por honestidade e não por falsa modéstia.
Olavo e Dora sempre foram para mim baluartes do Espiritismo: coisas espirituais do passado. Se eu pudesse não teria me afastado de Uberaba e teria permanecido ao lado das duas almas queridas.
Fascinava-me as primeiras edições dos livros de Chico Xavier: o caríssimo Olavo possuía tais edições e utilizou-as enquanto pode. Não trocava as primeiras edições por edições modernas: eis mais uma das nossas identidades. Olavo sempre teve respeito absoluto pela historicidade das coisas e das pessoas: é bem provável que, nesse departamento, também tenha me influenciado além do que eu possa compreender.
Minha paixão por livros e papeis antigos, raros, o privilégio de folhear páginas amareladas por décadas e séculos sempre marcaram minha psique: em mim desfilam seres e coisas antigas. Intimamente, sou absolutamente arcaico: Olavo trazia e expressava traços desse universo onipresente.
O casal Olavo e Dora foram pais de Adriana Boareto Borges Malagutti e José Roberto Borges.
Certamente, Olavo e Dora foram dois dos vários anfitriões a receberem na Pátria de origem o nosso brilhante estudioso Elias Barbosa: todos antigos companheiros de Chico Xavier, desde a Comunhão Espírita Cristã.