GERALDINA PEREIRA FERNANDES (*23.Junho.1913; +23.Julho.2002)
Textos

O nome da instituição e a própria instituição para tudo quanto os seguidores de Jesus de Nazaré pregavam e faziam foi decidido naquela que foi a primeira reunião entre alguns apóstolos e alguns anciãos de Jerusalém: estes apóstolos, presentes naquele momento em Jerusalém, eram Pedro, João, Tiago – irmão de Jesus , Paulo e seu companheiro Tito.

Pedro, João e Tiago irmão de Jesus foram chamados e reconhecidos como autoridades da comunidade de Jerusalém.

As divergências de ensinamento e de prática entre as autoridades apostólicas de Jerusalém e os ensinos e práticas de Paulo culminou na reunião de todos eles, no ano 51, para esclarecer as dúvidas e finalizar aquelas divergências: tal reunião é conhecida pelo nome de
Concílio de Jerusalém.

No denominado Concílio de Jerusalém defrontaram-se duas correntes diversas já estabelecidas entre as comunidades primitivas: a Petrina, representada pelo apóstolo e pescador Pedro, e a Paulina, representada pelo apóstolo e intelectual Paulo.

Uma das decisões do Concílio de Jerusalém foi nominar aquela comunidade primitiva de
Igreja Católica Apostólica Romana:
- católica, ou seja, universal, para todos (pagãos e não pagãos, judeus e gentios);
- apostólica, ou seja, fundada no ensino doutrinário dos apóstolos de Jesus;
- romana, ou seja, a sede dessa igreja seria Roma.

Até 1055 as decisões do Concílio de Jerusalém para a unidade da Igreja Católica Apostólica Romana eram suposta ou realmente seguidas: a partir daí, aconteceu o denominado
Cisma no qual houve a cisão da Igreja Católica Apostólica Romana com a Igreja do Oriente separada da Igreja do Ocidente; da cisão nasceu o chamado Catolicismo ortodoxo, contraditado em 1517 pelo advento da Reforma Protestante – iniciada e representada por Martinho Lutero.

Martinho Lutero apresenta ou representa a divisão da Igreja em
Igreja Católica e Igrejas Protestantes (ou Evangélicas).
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Retornando, porém, às decisões do chamado
Concílio de Jerusalém cujo primário objetivo era unir as comunidades primitivas desfazendo as dissensões entre as correntes petrina e a paulina, uma dissidência maior foi engendrada: Inácio de Antioquia insurgiu-se contra as decisões do Concílio de Jerusalém.

A comunidade de Antioquia da Síria (atual Antakya, da Turquia) havia sido fundada pelo próprio apóstolo Pedro e Inácio, o seu segundo sucessor, era discípulo do apóstolo João e também conhecedor de Paulo: depois de Pedro, crucificado no ano 67, Evódio assumiu a comunidade de Antioquia e este foi sucedido por Inácio.

Um fato retrospectivo: o apóstolo João conheceu Inácio quatro anos após a crucificação de Jesus; Inácio era, na época, um menino de 8 (oito) anos de idade.

Contrário às decisões do Concílio de Jerusalém,
Inácio de Antioquia tomou decisões radicais que, em seu conjunto, são realmente o primeiro Cisma dentro da comunidade primitiva:
- não reconheceu a autoridade das decisões dos que criaram a igreja católica apostólica romana;
- afastou-se definitivamente de todos os postulados do Judaísmo;
- autoproclamou-se, entre 68 e 100 ou 107, bispo de Antioquia, ou seja, o supervisor único e máximo da comunidade local;
- orientou, por cartas, para que todos os bispos (supervisores) de todos os locais fossem a autoridade máxima e que suas assembleias a eles se sujeitassem e resolvessem suas questões locais e não buscassem orientação e aconselhamento em Jerusalém e às determinações do Concílio; para Inácio, o povo local devia ver no bispo local (supervisor) o próprio Jesus. Aqui está a origem da hierarquia papalina, instituída e iniciada por Inácio: o bispo (supervisor) era localmente o que seria, depois, o papa.
- fundou uma nova religião não judaica e para esta nova religião inventou a palavra
Cristianismo;
- no Cristianismo, criado por Inácio, há a abolição da Torá em todas as assembleias não judaicas, substituição do Shabat do sétimo dia e instituição da adoração do domingo.

Na Antioquia da Síria e por causa da nova religião criada por Inácio e denominada Cristianismo, os seguidores de Jesus passaram a ser denominados de
cristãos; anteriormente, seguidores de Jesus eram cognominados de nazarenos – uma seita existente dentro do Judaísmo.
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A data aproximada do nascimento de Inácio é entre os anos 30 e 35.

Lenda ou fato, atribuiu-se a Inácio o cognome de
Theoforos, ou seja, Levado ou carregado por Deus; com efeito, nas comunidades primitivas, Inácio era chamado de Theoforos.

Inácio seria a mesma criança a que Jesus chamou e colocou no colo quando os discípulos Lhe indagaram "quem era o maior no reino dos céus". Esta passagem está em Mateus, capítulo 18 e versículo 2, e, também, em Marcos, capítulo 9, versículo 36.

Jesus respondeu aos discípulos: "Se alguém quiser ser o primeiro, seja o último e aquele que serve a todos". Tomou uma criança, colocou-a no meio deles e, pegando-a nos braços, disse-lhes: "Aquele quer receber uma destas crianças por causa do meu nome, a mim recebe; e aquele que me recebe, não é a mim que recebe, mas sim àquele que me enviou." (Marcos, 18: 35 a 37)

O reconhecimento de Inácio como aquela criança em contato com Jesus teria sido feita pelo apóstolo João, quatro anos depois da crucificação de Jesus e quando Inácio tinha oito anos de idade: João o adotou e o menino cresceu com o apóstolo e na companhia de Maria, em Éfeso; por isso, Inácio tornou-se discípulo do apóstolo João.

Preso sob as ordens do imperador Trajano, cujo reinado foi de 98 a 117, Inácio de Antioquia foi levado à Roma.

Inácio escreveu sete cartas, denominadas
Epístolas de Inácio e preservadas pelo Codex Hierosolymitanus: a Policarpo de Esmirna, aos Efésios, aos Esmirniotas, aos Filadelfos, aos Magnésios, aos Romanos e aos Trálios.

As cartas foram escritas quando Inácio era conduzido, preso, para Roma, no início do século II: essa condução foi uma verdadeira e forçada peregrinação de Inácio por várias prisões, desde Antioquia até Roma onde foi condenado e assassinado pelos leões do Coliseu, entre o ano 107 e 110.


Os exegetas são quase unânimes em rejeitar o ano 107 e em aceitar o ano de 110 para a provável morte de Inácio no Coliseu de Roma: e provável porque alguns estudiosos sequer admitem que Inácio tenha chegado a Roma. 

Carlos Fernandes
Enviado por Carlos Fernandes em 25/12/2011
Alterado em 19/02/2013


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Imagem de cabeçalho: Sergiu Bacioiu/flickr