GERALDINA PEREIRA FERNANDES (*23.Junho.1913; +23.Julho.2002)
Dr. Carlos Fernandes
Membro da Associação Brasileira de Enfermagem Forense - ABEFORENSE
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Textos
PERSONALIDADE ARISTOCRÁTICA E PERSONALIDADE CHINFRIM
A palavra aristocracia, deturpada em sua significação,vem do grego aristos, o melhor, e de kratos, poder; chinfrim é expressão, a meu ver, inventada e usada pelo escritor brasileiro Graciliano Ramos para significar alguma coisa pequena, estreita, limitada, "micha". Dessas duas palavras, tão distintas em sua origem, crio o conceito de Personalidade Aristocrática e Personalidade Chinfrim, apresentada em 1999 no meu livro "A Ferramenta Cósmica de Narciso", às páginas 33 e 24, quando, àquela época, utilizo-me das considerações de Carl Gustav Jung sobre construção da personalidade, em "O Desenvolvimento da Personalidade", páginas 178 a 192, numa publicação da editora Vozes, de Petrópolis-Rio de Janeiro em sua 3a. edição.

Explicitando em dez itens o pensamento de Jung sobre construção da personalidade, espero clarificar o que entendo por Personalidade Aristocrática e Personalidade chinfrim.

1. Desejos, ordens, recomendações, conselhos não produzem e não constróem uma personalidade. A motivação para o autoconhecimento decorre de fatos e dados internos e externos constrangendo a pessoa a autodescobrir-se: ela sente NECESSIDADE de ampliar-se, expandir-se, renovar-se, mudar de vida.

2. O desenvolvimento da personalidade é um PROCESSO DECISÓRIO absolutamente consciente e moral onde a pessoa escolhe o caminho para si mesma.

3. Ninguém se decidirá à construção de seu próprio caminho se não considerar esse caminho o melhor para si mesmo.

4. A grande maioria das pessoas é incapaz de escolher o seu próprio caminho, preferindo submeter-se às convenções e aos padrões coletivamente aceitos e propagados; e isso em detrimento da sua qualidade de vidade mental. As pessoas, em geral, preferem seguir um método, uma direção aprovada pelo senso comum, desistindo de serem totais, integrais e íntegras.

5. Todas as personalidades, historicamente lembradas e reverenciadas, foram grandiosas exatamente porque NUNCA se submeteram à opinião geral, ao considerado convencional. Essas personalidades SEMPRE transgrediram os padrões e as convenções.

6. Todas as personalidades, historicamente lembradas e reverenciadas, decididamente se afastaram de todas as leis externas, medos, receios, padrões, conceitos, métodos, esquemas, estruturas e modelos considerados pela massa popular como caminho desejável, normal e certo. Aquelas personalidades escolheram e construíram o seu próprio caminho, destacando-se quais montanhas acima das planícies.

7. As pessoas chinfrins, se não condenaram, nunca compreenderam o porquê de uma pessoa escolher o seu próprio caminho, expondo-se às dificuldades e às exprobações, às privações e aos obstáculos. Àquelas pessoas chinfrins o normal e o certo é caminhar dentro da estrutura planejada para todos. Assim, a pessoa construtora de seu próprio caminho sempre foi considerada louca, endemoniada, ou seja, possuída por um daimon ou deus. Somente alguém possuído por um demônio ou por um deus pode desejar um caminho para si diferente ao da maioria.

8. As pessoas aristocráticas, não chinfrins, são raríssimas e só se tornam verdadeiramente personalidades se conseguem dizer, de forma total e consciente, um "sim" a si mesmas, obedecendo à sua interioridade e aceitando sua destinação. Caso digam "não" tornam-se pessoas chinfrins, sucumbidas à força cega das circunstâncias e dos acontecimentos: essa pessoa se destrói como pessoa singular, aristocrática.

9. Quando a pessoa diz "não" a si mesma, desobedecendo a sua própria lei para render-se às leis gerais e externas, perde totalmente o significado de sua existência, deixando de ser personalidade. Talvez por isso a natureza deixa que a maioria siga a maioria, inconsciente e ignorante. Apenas raramente alguém é chamado para construir o seu próprio caminho: a massa popular jamais suportaria tal peso sobre si mesma, preferindo manter-se tal qual se apresenta, seguindo e trilhando o que já está instituído e aceito por padrão coletivo e supostamente normal.

10. TUDO O QUE É BOM NÃO DEVE PERMANECER BOM ETERNAMENTE: o bom deve se afastar para que o melho apareça. O melhor apenas surgirá se o bom ceder o seu lugar.

Pelos dez itens explicitadores da diferença entre Personalidade Aristocrática e Personalidade Chinfrim evidencia-se a grande distorção que os poderes exploradores e desintegrativos fizeram sobre as concepções de aristocracia, transformando personalidades cinfrins e imbecilizadas em gênios e heróis e, por outro lado, condenando verdadeiras personalidades aristocráticas ao isolamento, à mendicância, à morte. É também nesse sentido que Friedrich Nietzsche diz que certas pessoas nasceram para serem póstumas.

Quase sempre o sucesso, o aplauso, a fama, a celebridade com que o mundo celebra pessoas é uma mentira para manter a personalidade individual ou coletiva na qualidade de massa chinfrim: a contemporaneidade geralmente não tem competência mental e moral para conhecer e reconhecer uma personalidade aristocrática.

(Este artigo está igualmente publicada em minha página da Academia Virtual Brasileira de Letras)
Carlos Fernandes
Enviado por Carlos Fernandes em 14/02/2007
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