Apelidado de Juca ou Juquinha Perácio, outros o chamavam pelo sobrenome em pronúncia incorreta: Perasso.
José Jacynto de Alcântara relata um fato incluindo a fala do médium Paschoal Comanducci - de Belo Horizonte e amigo íntimo de José Hermínio Perácio. Diante da visita de José Hermínio ao médium, seu amigo e confidente, Comanducci lhe diz:
"Hoje não podemos conversar. Você vai ter que regressar urgente. Carmen, sua esposa, está muito mal. Gravemente assediada por entidade inimiga, está tomada e no momento acha-se debaixo da cama do casal, totalmente imobilizada, embora lúcida." (MATTOS, 2000, p.22)
Diante do fato anunciado pelo médium Paschoal Comanducci e confirmado por José Hermínio ao retornar a sua residência, este volta a Belo Horizonte e o médium acrescenta profetizando:
"Você é um médium curador. Carmen também o é. Doravante, sua mulher está livre do obsessor. A principal missão de vocês agora é ajudar o Chico Xavier. Ele possui recursos mediúnicos múltiplos. Está cercado de falanges tão poderosas como as que assistiam Jesus. Esse menino assombrará o mundo. Escreverá mediunicamente centenas de livros e será intransigente defensor e divulgador do Espiritismo codificado por Allan Kardec. Viverá muito. Desencarnado, não terá substitutos." (MATTOS, 2000, p.23)
Pela profecia do médium Paschoal feita ao amigo José Hermínio Perácio, tais fatos e o diálogo não devem ter sido distantes de 1927 ou era entre 1927 e 1928.
No relato de José Jacynto de Alcântara e na época provável de 1927 ou imediatamente anterior maio de 1927, Perácio era médium sem o saber: tanto que, chegando em sua fazenda e certificando-se de que realmente sua esposa estava na condição em que o médium Paschoal Comanducci havia descrito, fica impressionado, retorna a Belo Horizonte e recebe orientações sobre fatos mediúnicos, inclusive a afirmação de que ele e dona Carmen eram médiuns curadores e deveriam auxiliar o desenvolvimento mediúnico de Chico Xavier. (MATTOS, 2000, ps.22 e 23) Esse auxílio foi de tal ordem que Paschoal orienta José Perácio a mudar-se para Pedro Leopoldo e acompanhar as atividades mediúnicas de Chico Xavier.
Na mesma fonte acima referenciada, José Jacynto de Alcântara lembra alguns traços da personalidade de José Hermínio Perácio:
- honestidade de caráter;
- temperamento franco e rude;
- sempre disposto a ajudar as pessoas;
- sem enumerar obstáculos e esforços, costumeiramente viajava para auxiliar pessoas.
Ratificando: José Hermínio Perácio tanto era amigo de João Cândido Xavier quanto era amigo pessoal do médium Paschoal Comanducci, além de ser, conforme anteriormente registrado, aparentado com Nelson Pena e Geni Pena – respectiva e posteriormente esposo de Carmozina Xavier e esposa de José Cândido Xavier, ambos irmã e irmão de Chico Xavier.
Em seu depoimento, Chico Xavier afirma: o seu pai João Cândido Xavier conhecia José Hermínio Perácio "por amigo e espírita cristão". (BARBOSA, 1975, p.25)
Pelos traços da personalidade de José Hermínio Perácio, ele e sua esposa:
-primeira e prontamente atenderam ao pedido de socorro de João de Cândido Xavier e foram a casa da família Xavier na manhã do dia 7 de maio de 1927, levaram O Evangelho Segundo o Espiritismo e O Livro dos Espíritos, fizeram preces, configurando um pronto atendimento espiritual a Maria da Conceição Xavier.
Em algum momento (talvez, na mesma manhã de 7 de maio de 1927, dona Carmen Pena Perácio psicografa uma longa mensagem do espírito Maria João de Deus. Em um momento da mensagem, dirigida a todos os filhos presentes da família Xavier, o espírito dirige-se diretamente a Chico Xavier e afirma: “Chico, meu filho, eis que nos achamos mais juntos, novamente. Os livros à nossa frente são dois tesouros de luz. Estude-os, cumpra os seus deveres e, em breve, a Bondade Divina nos permitirá mostrar a você os seus novos caminhos.” (BACCELLI, 2010, p.52).
Os dois livros a que se referia Maria João de Deus eram O Evangelho Segundo o Espiritismo e O Livro dos Espíritos: José Perácio presenteia o jovem Chico com esses dois livros, em 7 de maio de 1927. (BARBOSA, 1975, p.26)
Ratificando quanto à chegada do senhor Perácio a Pedro Leopoldo: no depoimento do irmão paterno de Chico Xavier, André Luís Xavier afirma a chegada de José Hermínio Perácio no "trem das três horas da manhã". (CARVALHO e MELO, 2010, p.29)
Naquele dia 7 de maio de 1927 José Hermínio Perácio vai à casa de João Cândido. Existe a possibilidade de que a sua esposa, dona Carmen, não estivesse presente. E isto porque testemunha: seu esposo atende ao pedido de João Cândido Xavier e vai a Pedro Leopoldo ver Maria da Conceição Xavier. (BARBOSA, 1975, p.162)
Dona Carmen Pena Perácio, em seu depoimento, faz entender que não estava presente em Pedro Leopoldo quando Maria da Conceição Xavier é levada para a Fazenda Maquiné: "a doente foi levada [para a Fazenda Maquine] por meu marido, que era médium curador." (BARBOSA, 1975, p.162)
-José Hermínio Perácio, com a permissão de João Cândido Xavier, resolve levar Maria da Conceição Xavier para a Fazenda Maquiné, sendo acompanhados por José Cândido e Francisco Cândido Xavier.
Dona Carmen fala do restabelecimento rápido da saúde de Maria da Conceição Xavier, mediante o amparo dos protetores espirituais. (BARBOSA, 1975, p.162)
- na "segunda quinzena de junho de 1927", Carmen Pena Perácio e João Hermínio Perácio acompanham Maria da Conceição Xavier a Pedro Leopoldo, restituindo-a a casa da família Xavier. O depoimento é claro quando a esposa diz: "meu marido e eu acompanhamos a irmã de Chico a Pedro Leopoldo, com a alegria de restituí-la ao lar, curada da obsessão de que fora acometida". (BARBOSA, 1975, p.162)
Na restituição, pois, era o casal e em maio era apenas José Hermínio Perácio.
- ao restituir Maria da Conceição Xavier à família, o casal Perácio demora-se "por alguns dias" em Pedro Leopoldo e percebem a necessidade de criar um grupo espírita: novamente diz "meu esposo e eu, com alguns companheiros, fundamos o Centro Espírita Luiz Gonzaga". (BARBOSA, 1975, p.162) Essa fundação deu-se no dia 21 de junho de 1927: a "segunda quinzena" e aqueles "alguns dias" a que se refere Carmen Pena Perácio foram, pois, a partir de 15 de junho.
-no dia 8 de julho de 1927, em Pedro Leopoldo e já no Grupo Espírita Luís Gonzaga, Chico Xavier inicia ostensiva e publicamente o Mediunato Psicográfico.
-no dia 9 de julho de 1927, Chico Xavier procura o padre Sebastião Scarzello, comunica-lhe os últimos fatos, a relação com os novos amigos espíritas e a sua decisão de tornar-se espírita e dedicar-se à mediunidade.
-no dia 10 de julho de 1927, o casal Perácio retorna à Fazenda Maquiné e Chico Xavier os acompanha, participando das reuniões espíritas daquele núcleo familiar. Nessa reunião e atendendo à solicitação do espírito amigo que se apresenta a Carmen Pena Perácio, são disponibilizados lápis e papel e Chico Xavier psicografa uma mensagem assinada por sua mãe Maria João de Deus.
A própria dona Carmen Pena Perácio testifica: naquele tempo de 1927, "também me achava no início do desenvolvimento mediúnico". (BARBOSA, 1975, p.164) E é por essa declaração que se pode pensar na hipótese de que José Hermínio Perácio, após o dia 10 de julho de 1927, procurou Paschoal Comanducci, em Belo Horizonte, orientando-o sobre a mediunidade curadora (tanto dele quanto de sua esposa), sobre a necessidade do casal apoiar Chico Xavier e da decisão de vender a Fazenda Maquiné e estabelecer-se em Pedro Leopoldo – o que se deu de 1928 a 1934.
Em 1934 e por razões financeiras, José Hermínio Perácio decide sair de Pedro Leopoldo e muda-se com a família para Belo Horizonte: para a mudança, a casa da família Perácio foi vendida para o pai do senhor Jadir dos Santos Viana. Esta constatação da venda da casa procede do depoimento do próprio senhor Jadir, cujo pai também tornou-se dono do armazém pertencente, até 30 de junho de 1935, a José Felizardo Sobrinho:
"Eu nasci em 1928, na beira do rio Paraúna. Na época aquela área pertencia ao município de Curvelo, mas hoje é uma cidade autônoma e se chama Presidente Juscelino. Eu vim para Pedro Leopoldo com sete ou oito anos [ou seja, 1935 ou 1936]. Morei primeiramente num engenho da minha avó, e depois me mudei para a casa que meu pai comprou na cidade, na rua São Sebastião, que era do Juca Perácio." (CARVALHO E MELO, 2010, p.47)
De acordo com informações de José Cândido Xavier, dadas ao jornalista Clementino de Alencar em 1935, José Hermínio Perácio mudou-se para a capital mineira, "dedicando-se exclusivamente à sua profissão de chofer." (ARANTES, 2003, p.161) Em Pedro Leopoldo, a profissão de José Hermínio Perácio era, pois, a de motorista de táxi.
Motoristas de táxi, amigos de Chico Xavier em Pedro Leopoldo, são nomeados: Geraldo Lúcio (nascido em 13 de outubro de 1916) e cuja convivência com o médium Xavier iniciou-se em fevereiro de 1934, José Albano, “o Juquinha e o Hermínio”. (CARVALHO E MELO, 2010, p.52 e 53)
O casal Perácio em Belo Horizonte continua suas atividades espíritas mas sem vínculo a outros Centros Espíritas existentes na capital mineira: limitam-se a um grupo familiar. Essa conclusão é pertinente porque não há nenhum registro em livro ou no discurso de nenhum espírita, inclusive na fala de Chico Xavier, de que José Hermínio Perácio e Carmen Pena Perácio frequentassem algum grupo espírita em Belo Horizonte: aliás e estranhamente, nem a União Espírita Mineira menciona algo sobre a vida espírita do casal Perácio em Belo Horizonte – a não ser a entrevista realizada em julho de 1967 por José Martins Peralva na residência de dona Carmen.
Em depoimento, Adélia Machado Figueiredo (irmã de José Flaviano Machado) afirma: em "Belo Horizonte, eu frequentava as reuniões em casa do Sr. Hermínio Perácio e casualmente, vindo de Pedro Leopoldo, Chico Xavier [também participava de algumas dessas reuniões]." (EMMANUEL, XAVIER e GERMINHASI, 1977, p.81) Ou seja, em suas constantes viagens a Belo Horizonte, Chico Xavier participava das reuniões espíritas familiares na casa do casal Perácio e onde, igualmente, predispunha-se à psicografia de mensagens; afora essa presença, manteve a relação de amizade e de parceria espírita mediante correspondência.
Uma das filhas de José Hermínio Perácio e Carmen Pena Perácio esteve, em 13 de março de 2010, na pré-estreia do filme Chico Xavier, no auditório da Fazenda Modelo Lanagro, em Pedro Leopoldo. Carlos Herculano Lopes, jornalista do Estado de Minas, publicou em 15 de março de 2010 uma pequena fala expressiva de Ruth Perácio em que afirma, referindo-se a Chico Xavier: "Nossa amizade, durante toda a vida, foi muito grande. Tenho mais de 140 cartas dele." Estas cartas deveriam ser consideradas patrimônio do Espiritismo e divulgadas como capítulo ímpar da História do Espiritismo com Chico Xavier.
José Hermínio Perácio faleceu na cidade de Belo Horizonte, em janeiro de 1967; a viúva dona Carmen permaneceu em Belo Horizonte com as filhas.
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Baccelli (2010, ps.195-6) menciona a presença de Saul Perácio, na Livraria Espírita localizada na avenida Leopoldino de Oliveira, em Uberaba – Minas Gerais. Este encontro deu-se entre 1959 e 1960, estando presentes o professor Fausto de Vito, sua esposa e um filho do casal de nome Antônio, além de Chico Xavier. Na mencionada Livraria entrou o senhor Saul Perácio, solteiro e promotor público da Comarca de Uberaba, identifica-se a Chico Xavier e menciona o casal José Hermínio Perácio e Carmen Pena Perácio.
Existem duas hipóteses referentes a Saul Perácio: era um dos filhos do casal Perácio ou era um dos irmãos de José Hermínio Perácio.
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BIBLIOGRAFIA
-ARANTES, Hércio Marcos Cintra, organizador. Notáveis reportagens com Chico Xavier. 2. ed. Araras: Ide. 2003
-BACCELLI, Carlos A. 100 anos de Chico Xavier: fenômeno humano e mediúnico. Uberaba: LEEP. 2010
-BARBOSA, Elias. No Mundo de Chico Xavier. 2. ed. Araras: Ide. 1975
-CARVALHO, Antônio Cesar Perri de; MELO, Oceano Vieira de, organizadores. Depoimentos sobre Chico Xavier. Brasília: FEB. 2010
-MATTOS, Divaldinho. Chico Xavier em Pedro Leopoldo. Votuporanga: Didier. 2000
-XAVIER, Francisco Cândido; EMMANUEL; GERMINHASI, Rubens Sílvio. Luz Bendita. São Paulo: Ideal. 1977
Carlos Fernandes
Enviado por Carlos Fernandes em 19/08/2012
Alterado em 19/02/2013