A sistemática formação de um conceito científico deve ser ensinada nas Escolas se quisermos superar o campo das opiniões e dos achismos na construção de conhecimento científico.
Obviamente sabemos que ciência significa conhecimento sistematizado e, nesse sentido, não basta inventar uma palavra e utilizar-se de um vocábulo existente e dar opiniões sobre o seu significado para chamarmos isso de conceito científico.
A explicitação de Wilhelm Guilhermo Dilthey (1833-1911) sobre o modo de se formar e se definir um conceito se dá com os seguintes passos:
- escolher ou criar a palavra designativa do que se quer conceituar;
- esclarecer a origem ou a história da palavra escolhida ou criada;
- determinar a origem ou a história do conceito escolhido ou criado;
- escolher ou identificar que fatos da realidade histórico-social-humana serão traduzíveis do nome ou da expressão geral escolhida ou criada;
- discriminar as possíveis noções, idéias, concepções, conceituações e até definições já existentes do conceito escolhido; se o conceito é criado, discriminar as possíveis noções, idéias, concepções e conceituações que se poderiam agregar ao conceito criado. Tais noções, idéias, concepções, conceituações e até definições já existentes ou possíveis serão nomeadas de abreviaturas do fato;
- separar as abreviaturas distorcivas ou falsas do fato que, porventura, tenham sido ou possam ser anexadas ao nome ou expressão geral escolhida ou criada; tais abreviaturas serão consideradas relações isoladas ou arbitrárias entre vivências de fato - realidades de fato - abreviaturas de fato;
- compor traços distintivos essenciais e traços distintivos suficientes, expressivos do conceito escolhido ou criado. Essa composição permite a definição do conceito escolhido ou criado pela explicitação dos traços distintivos do fato.
- definir o conceito mediante a composição dos traços distintivos do fato.
A explicitação diltheyana pode ser consultada em sua obra traduzida para o espanhol sob o título de "La esencia de la filosofia", da qual possuo a segunda edição, publicada pela Editora Losada (Buenos Aires), em 1952.
Fora desse rigor sistemático na construção de um conceito estaremos editando ou perpetuando o que eu me aventuro a designar de ACEFALIA EPISTEMOLÓGICA -não muito rara de se encontrar nas faculdades brasileiras, particularmente nos cursos de graduação e ainda mais especificamente na área de metodologia científica.
Carlos Fernandes
Enviado por Carlos Fernandes em 04/04/2007