A Filosofia Medieval banha-se inteiramente nos escritos neoplatônicos (influenciados por Plotino, Jámblico e Proclo) do teólogo bizantino cognominado Pseudo Dionisio Aeropagita (entre os séculos V e VI da era cristã) – escritos estes encontrados na Síria.
O saber filosófico da chamada Idade Média europeia radica-se na disputa entre as concepções de mundo do realismo e do nominalismo, ainda vigentes no mundo contemporâneo em determinadas concepções de ciência e, sobretudo, na matemática: Realismo remonta à doutrina socrático-platônica da teoria das ideias para a qual os Universais são coisas e precedem os Particulares; ao contrário, o Nominalismo, nascido do conceitualismo de Aristóteles, preconiza que os Universais são nomes (apenas nomes) e posteriores aos Particulares.
Não se pode esquecer que Antístenes, fundador da Escola Cínica e mestre de Diógenes de Sínope, criou um sistema nominalista para combater o realismo de Platão: o nominalismo de Antístenes foi a base da Teoria do Conhecimento da anti-platônica Escola Estoica (representada por Zenão de Citium, Crisipo, Panécio de Rodas, Sêneca, Epitecto, o imperador Marco Aurélio).
Na denominada Idade Moderna europeia, a ressurreição (ou herança) do Realismo (Escolástico) é o Idealismo. (B. Russell, História do Pensamento Ocidental, 2001, p.202)
Roger Bacon (1213-1294), combatedor da Lógica Aristotélica e defensor da observação e do experimento, desenvolve o nominalismo na forma de ciência empírica fundada no saber natural aristotélico-arábico. (W. Dilthey, Historia de la Filosofia, 1996, p.129; Ernst von Aster, Historia de la Filosofia, 1945, p.207)
Sem a compreensão da Mística do neoplatônico Dionisio Areopagita e da Escolástica, cujo advento remonta ao clérigo francês e nominalista Roscelino (mestre de Pedro Abelardo, também nominalista), não se pode compreender o profícuo pensamento da Filosofia Medieval: Roscelino foi o primeiro pensador a aplicar o nominalismo à dialética teológica. (W. Dilthey, Historia de la Filosofia, 1996, p.119)
Corrente e/ou Escola Filosófica e Pedagógica, cujo auge é o século XIII, a Escolástica (do) forma-se no seio da igreja católica romana como teoria e método pedagógico de “civilização” do novo mundo romano após o “aparente” fim do Império do Ocidente: aparente porque o lugar ocupado pelo Império Romano do Ocidente agora fora assumido pela igreja católica.
Tanto a Escolástica é uma concepção de mundo divisora de águas no amálgama judaico-romano-grego, gerador do que é chamado de pensamento-civilização-cultura Ocidental, que o início da Idade Média também pode ser referenciado não pela queda do Império Romano do Ocidente mas pela fundação da Abadia do Monte Cassino por Bento de Núrsia (480-547) – berço da Ordem do Beneditinos e cujo modelo foi imposto por Carlos Magno (742-814) a partir do ano de 788: coincidentemente ou não, a irmã gêmea de Bento chamava-se Escolástica de Núrsia (480 – 547) – ambos canonizados pela igreja católica apostólica romana.
As águas em que se banha a Escolástica é o pensamento platônico-aristotélico e a Patrística (dos séculos I ao VII, no oriente e no ocidente, e cujo fundamento é o Platonismo via Plotino), o leito ou as margens dessas águas é a bíblia, o espaço ou o cenário são os mosteiros, os conventos, as catedrais e, depois, as universidades medievais da Europa (continente de defesa resultante das guerras e invasões bélicas ligadas à “colonização germânica” e à “conquista muçulmana”).
Etimologicamente, Escolástica significa pertencente às scholae (escolas). Entre os grandes mestres da Escolástica, desde o século VIII, citam-se: Alcuíno de York, Rabano Mauro, João Escoto Erígena, Radberto Pascasius, Gerbert de Aurillac, Odon de Tournay, Guilherme de Champeaux, Escola de Chartres (Bernardo de Chartres, Teodorico de Chartres, Gilbertus Pictaviensis, Guilherme de Conches), Amaury de Benes, David de Dinant, Pedro Abelardo (1079-1142) e Hugo de Saint-Victor (1096-1141); João de Salisbury (1110-1180); Tomás de Aquino (1224-1274), o Sumo Doutor da Escolástica.
A perda de vitalidade ou um breve esfriamento da Escolástica nos séculos XIV e XV tem por termômetro o advento do Santo Ofício (pela Inquisição) e sua utilização prática sobretudo nos séculos XVI e XVII. A pedagogia do convencimento torna-se a pedagogia do ferro e do fogo, sob as bênçãos do Papado: no caso do Brasil, essa pedagogia bélica da fé inaugura-se com a Companhia de Jesus (os soldados de Loyola) e cujo braço inflexível nos domínios lusitanos é o padre Manuel da Nóbrega, estendendo-se de 1549 a 1757 com as determinações de Sebastião José de Carvalho e Melo - o marquês de Pombal.
Na Espanha, a restauração da Escolástica foi possível: por Francisco de Vitória (1480-1546) da Universidade de Salamanca; pelo cardeal Francisco Jiménez de Cisneros (1436-1517), fundador da Universidade de Alcalá em 1499; na Universidade de Coimbra, fundada em 1508, e onde foi mestre Francisco Suárez (1548-1617). A restauração da Escolástica, pois, deu-se pela ação da ordem dos dominicanos (com o seu maior expoente Tomás de Aquino) e da ordem dos jesuítas (criada por Inácio de Loyola). (Ernst von Aster, Historia de la Filosofia, 1945, p.232) Pode-se dizer, pois, que os dominicanos e os jesuítas são tradicionalmente escolásticos.
Um novo e posterior renascimento da Escolástica pode ser identificado com Brentano: distante do Kantismo, o germânico Franz Clemens Honoratus Hermann Brentano (1838-1917) manteve-se na tradição vinculante dos pensamentos do germânico Gottfried Wilhelm Leibnitz (1646-1716) e do inglês John Locke (1632-1704), procedentes de Aristóteles e da Escolástica. Não se pode esquecer de que na Universidade de Viena, Brentano também foi professor de Sigmund Freud, Carl Stumpf (1848-1936) e de Edmund Husserl (1839-1938) – um de seus discípulos e considerado o fundador contemporâneo da Fenomenologia!
Carlos Fernandes
Enviado por Carlos Fernandes em 25/08/2013