GERALDINA PEREIRA FERNANDES (*23.Junho.1913; +23.Julho.2002)
Dr. Carlos Fernandes
Membro da Associação Brasileira de Enfermagem Forense - ABEFORENSE
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Textos

A violência moral é o desenvolvimento individual de um traço de caráter social historicamente determinado e amplamente estudado por Erich Fromm, particularmente nos tipos de caráter das orientações exploradora e mercantil tanto quanto em seus estudos sobre personalidades individuais e sociais necrófilas: a necrofilia é um tipo de agressividade maligna cuja meta e estratégias se caracterizam por destrutividade de coisas e pessoas.


Historicamente há vários tipos de sociedade fundadas na violência moral: as sociedades feudal, mercantilista, absolutista, escravagista, industrial, socialista, capitalista são alguns daqueles tipos. O ideal de indivíduo, de relações, de educação e de nação em tais sociedades está fundado na violência moral.

 

Nos estudos de Erich Fromm relacionados com o que hoje se designa violência moral é recomendável o aprofundamento sobre os conceitos de caráter, caráter social, tipos de caráter, orientações de caráter, necrofilia.

Em resumo e segundo o pensamento de Fromm, caráter é fundamentalmente uma formação histórica dependente das vivências ou experiências de cada pessoa e, portanto, estruturável e modificável segundo aquelas mesmas vivências decorrentes da rede de relações sociofamiliares.

Geralmente, confunde-se caráter com temperamento e personalidade - uma confusão desfeita por Fromm principalmente em suas obras “Análise do Homem”[1] e “Anatomia da destrutividade humana”:[2] temperamento é constitucional e imutável; caráter é sociofamiliar e modificável; personalidade é a totalidade de qualidades psíquicas herdadas e adquiridas, caracterizantes de uma pessoa e que a tornam única, original.

        Se não houvesse modificação do caráter de uma pessoa seríamos um autômato ou sem perspectiva de desenvolvimento, no sentido de diferenciação e aperfeiçoamento.

Caráter social é a rede interconexa e dinâmica entre estrutura psíquica –sempre histórica- e estrutura social, capazes de modelar e /ou cimentar o modo de ser das pessoas.

Segundo a própria estrutura social, tipos de caráter foram classificados por Fromm em: orientações improdutivas e os seus subtipos (receptivo, explorador, acumulativo, mercantil); orientação produtiva, do ponto de vista intelectual, moral e social e não no sentido meramente econômico-financeiro. Essa classificação não é estática e os diversos subtipos de orientação de caráter podem combinar-se entre si.

As tipificações de Fromm podem ser nomeadas, respectivamente, de caráter de não cuidado e caráter de cuidado.

 

Uma rede típica de orientação de caráter improdutiva ou caráter de não cuidado é a necrofilia cujo fundamento está em anular pelo controle e poder destrutivos o que é ou está vivo: não é um suposto “instinto de morte” paralelo (ou em luta) a um “instinto de vida”. 

O fascínio, a admiração e a obsessão pelo não vivo, pelo que está morto, doente ou adoecido, quebrado, danificado, decomposto ou mutilado, tanto quanto o desejo de transformar tudo o que vive em algo morto ou adoecido caracterizam o modo necrófilo de ser. 

Nos estudos de Rollo May[3] sobre as fontes da violência está a proposta tipificadora de cinco formas de poder: explorador, manipulatório, competitivo, nutriente, integrativo.

Os três primeiros podem ser considerados tipos de não cuidado e os dois últimos, tipos de cuidado.

Teoricamente, os tipos de não cuidado são incubadores do modo necrófilo de ser.

 

Nas minhas pesquisas constitutivas do conceito de violência moral estará sempre implícito o pensamento de Erich Fromm, pelo menos como marco teórico de meu pensamento ou com ele em permanente diálogo.

Marco teórico ou conceitual é a fundamentação teórica de um estudo ou pesquisa e se representa por uma teoria ou rede de conceitos estabelecidos pelo estudioso ou pesquisador, em diálogo com pensadores de sua área ou de áreas afins.


[1] FROMM, Erich. Análise do homem. 13. ed. Rio de Janeiro: Guanabara. 1986

[2] FROMM, Erich. Anatomia da destrutividade humana. Rio de Janeiro: Zahar. 1975.

[3] MAY, Rollo. Poder e Inocência: uma análise das fontes da violência. Rio de Janeiro: Guanabara. 1981

Carlos Fernandes
Enviado por Carlos Fernandes em 25/08/2007
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